quinta-feira, 17 de abril de 2014

Sem pressa

Há tempos ouvimos dizer que "a pressa é inimiga da perfeição", mas entender o que isso significa vai muito mais além do que simplesmente acreditar que executar tarefas lentamente vai gerar melhores resultados. Pois bem, assim como todos os garotos e garotas que se apaixonam pela guitarra, eu também vivi os meus dias de ansiedade e busca pelo avanço da qualidade técnica e da fluidez na execução das frases. Não há muito erro nisso no início de tudo, mas com o passar dos anos e o viver experiências cotidianas, percebi que a vida ensina muito mais música do que o aperreio que nós mesmos criamos ao estudar música. Estar focado em alcançar um objetivo, consiste em dedicar-se quase que exclusivamente à ele. Isso, é claro, quando este objetivo será o que definirá o rumo da sua vida, ou parte dele.

A música sempre esteve presente em minha família, mesmo não tendo tradição profissional, mas cantar ou tocar um instrumento já é algo natural em nosso povo. Obviamente, fui infectado com o vírus musical e não só isso, fui dominado pelo desejo de viver pela música e para ela. Não rolou!
Pura frustração. As limitações financeiras da minha casa nunca me permitiram dedicar-me inteiramente à música e muito menos à guitarra, o que me levou a desenvolver habilidades profissionais mais rentáveis em nível de curto prazo. As artes, já presentes no sangue, me empurraram para a publicidade, e mesmo com a guitarra presente, o tempo nunca foi suficiente.
Acabei por me tornar um músico mediano, o que me permite desfrutar de alguns tempos de puro prazer, ao tocar meu instrumento favorito, mas limita as minhas expectativas quanto a dedicação exclusiva e o ganho financeiro com música.

A desculpa para não ser bom, é a "falta de tempo para estudar". Mas o quanto isso é verdade?
Hoje aos 32 anos, percebo que após 20 anos ouvindo músicas, estudando música, conhecendo músicos e nunca deixando passar um único dia sem um pequeno envolvimento com algo musical, evoluí e muito.
Um dos grandes problemas que identifico, não apenas em mim, mas nos músicos com quem convivo e em outros que observo, está em focar algo que foge ao que seria o objetivo principal do ato de estudar música, que é de fazer música. Ou seja, ao invés de estar focado no prazer de sentir e viver, desfrutar as sensações e sentimentos que a música provoca, estamos obstinados em provar algo para alguém, ou para nós mesmos. Como se realmente houvesse algo a ser provado.

Por experiência, afirmo que tudo que estudei e pesquisei não se compara ao que aprendi com a convivência com outros músicos e, todas as horas de estudo não valeriam de nada se não houvessem momentos onde pudesse ver e ouvir música feita por outras pessoas.
Se você já ouviu estilos musicais variados e já conheceu a música de culturas e países diferentes, gostando ou não, já pode entender o que estou querendo dizer. Muitas vezes três acordes tocados em um Ukulele, soam muito mais complexos do que uma peça sinfônica "mozartiana". Digo, relativo aos sentimentos que a simplicidade pode despertar e a aflição que a complexidade pode trazer.

O fato é que a música existe em tudo, todos e em todos os lugares, e existe para ser vivida, sentida e se possível analisada. Não me entendam mau, estudar é ótimo e faz muito bem, permite termos conteúdo e ferramentas para a criação musical. Mas, entender que a música é sentimento e não técnica irá conceder uma liberdade impossível de não perceber. Técnica não é música, é ferramenta. Ter essas ferramentas é bom demais, trocar os sentimentos pelas ferramentas é nocivo e prejudicial à criatividade musical.

Então por que não buscar o equilíbrio, por que não curtir os momentos de estudo como se estivéssemos tocando?

Bons estudos e vamos fazer música e tocar música. Nos vemos em breve.